Entrevista com Ashinano Hitoshi - Revista Pafu - Julho/1996

Primeira entrevista com o mangaká de Yokohama Kaidashi Kikou para a revista Pafu. Na ocasião, acontecia o lançamento do primeiro Drama CD.
Publicada originalmente na edição de julho de 1996.



Yokohama Kaidashi Kikou também foi a sua obra de estreia, certo?

Ashinano: Exatamente. A serialização começou dois meses depois da primeira publicação. Atualmente, está com uns 18 capítulos. Já se passaram quase dois anos.

Você desenha mangás há muito tempo?

Ashinano: O que eu mais desenhava eram rabiscos, enquanto que mangás de forma diligente foi somente bem depois. Gosto muito de aviões e os desenhava bastante. Talvez tenha começado há uns 10 anos. Também cheguei a enviar histórias para uma revista de mangás da Shogakukan, apesar de não ter sido algo frequente.

Você trabalhou por muitos anos para se tornar um mangaká?

Ashinano: Não diria que trabalhei ou algo tão grandioso assim (risos). Até então, estive meio como que um assistente para Yoshida Kei, que atualmente está em atividade, por sermos colegas. Era mais como se fosse uma escapada para casa de um amigo depois da escola (risos).

Como eram as histórias que você enviou?

Ashinano: Não foram muitas, mas acho que eram bem abstraídas (risos).

Tinham um estilo acalentador, com animais e coisas do tipo?

Ashinano: Não tinham animais, mas tinham histórias como a da Misago. Eu não busco fazer algo acalentador ou abstraído. Elas acabam se tornando assim enquanto vou desenhando. Só percebo depois (risos). Não é algo proposital. Claro, há também momentos tristes em "Yokohama", mas penso que desenhei com mais frequência aqueles que não são.

Quais são seus personagens favoritos de Yokohama Kaidashi Kikou?

Ashinano: A Alpha, sem dúvidas, e também gosto do Tio.

Mesmo sendo uma robô, a Alpha tem um lado bastante humano.

Ashinano: Foi por eu não ter deixado evidente o seu lado mais robótico. Creio que aqueles que esperavam algo do gênero devem ter ficado desapontados.

Dentro dessa história, com o tempo passando tão vagarosamente, a existência dos robôs acabou encaixando perfeitamente, não é mesmo?

Ashinano: Sim, precisamente. Eu acho que os robôs tem o seu próprio estilo de vida. Eles não pensam sobre o que aconteceu no mês ou durante o ano todo. Especialmente a Alpha, que vive sem se preocupar com nada isso.

Além disso, as músicas e as danças que aparecem na obra são marcantes.

Ashinano: Apesar de escutar de tudo, se me perguntarem se o mangá tem uma identidade musical, eu diria que não. A primeira coisa que penso é na cena, por exemplo, a da Alpha tocando o Yueqin. A partir disso, penso como posso fazê-la progredir até se tornar daquela forma. Os outros momentos acontecem quase que da mesma maneira. Do contrário, quando a cena não vem, acaba sendo um leve incômodo (risos). A minha cabeça só funciona em via única (risos). Eu não consigo desenhar sem um ponto de partida.

Você começou a escrever sem um plano da obra toda?

Ashinano: Exato. A única coisa que pensei a fundo foi na visão de mundo, já que é algo que gosto de criar. Antes mesmo de colocar a Alpha como protagonista, pensei nos lugares que apareceriam e que alguém sairia por aí os apresentando. Por isso mesmo que depois de terminar um capítulo, eu me preocupava se conseguiria desenhar o próximo (risos). Quando a cena não vem em mente, só o que eu posso fazer é dar uma voltinha (risos).

Você parece ter dificuldades em achar esse ponto de partida.

Ashinano: Se houver uma saída, eu consigo ir até lá com força total, só que isso leva um tempo. Em um mês, eu apenas consigo desenhar não mais do que 16 páginas (risos). De fato, já haviam cenas que pretendia fazer desde muito antes, mas, antes do início da serialização, eu só tinha pensando em apenas uns cinco capítulos. Achava que ela encerraria depois desses cinco (risos). Aliás, eu nem consegui desenhar algumas dessas cenas, optei por outras para poder continuar sendo publicado (risos). Felizmente, deu certo (risos).

Onde você nasceu?

Ashinano: Eu sou de Yokosuka, na prefeitura de Kanagawa, mas desenho tomando como inspiração a Península de Miura e seus arredores. Também de Yokohama, mas apenas das vezes que andei por lá. Por isso, deve ter muita coisa em falta para quem conhece bem. Se você for pela primeira vez em um algum local com uma atmosfera semelhante dali, mesmo que até então fosse um lugar desconhecido, dá para sentir uma certa familiaridade. Eu quero desenhar diversos lugares, mas se eu não for até eles, não consigo representá-los de forma apropriada. No momento, a área de atuação da Alpha é bem limitada, então vamos ver como será mais para frente (risos).

Você também gosta de pensar nas coisas mais lentamente?

Ashinano: Talvez. Se bem que eu deveria ser mais rápido (risos). Eu não sou bom em pensar apressadamente, acho que é por causa disso que as coisas acabaram saindo desse jeito (risos).

Teve algo que você pediu para estar na dramatização?

Ashinano: Deixei a maior parte aos cuidados da produção. Se fossem fazer como eu penso, talvez ficasse tão longo que nem caberia no CD (risos), é melhor deixar que profissionais cuidem disso. Seria coisas como 45 minutos de barulho de moto (risos), esse tipo de atmosfera. Talvez não fosse para o grande público, mas gostaria de escutar algo assim (risos). Acho que seria incrível ouvir isso e conseguir 'ver' essas imagens. Como dessa vez a história seguiria a do mangá, quando me mostraram o roteiro, percebi que adaptaram quase que como no original.

Seria ótimo se a próxima adaptação fossse em anime também.

Ashinano: Concordo. Eu adoraria, mas penso que seria difícil de assistir. Uma hora só de passeio de moto ou vinte minutos dela dormindo e acordando (risos). Essa é a imagem mais próxima de "Yokohama". Sem falar que o mangá ainda não acabou também.

Tem alguma outra coisa que você se interesse além de mangás?

Ashinano: Tem bastante, tipo ler mapas.

Mapas?

Ashinano: Não deveria, levam bastante tempo (risos). Eu poderia passar um dia inteiro lendo eles. Isso se tornou ainda mais frequente desde que passei a andar de moto. Foi assim que eu comecei a fazer "Yokohama" também. Me deu vontade de sair em viagem apenas usando mapas. Antigamente, eu saía sem rumo andando pelos arredores de Kanto com um deles em mãos. Se eu não tivesse tido essas experiências, talvez jamais tivesse escrito "Yokohama".

Isso agrega ao estilo do mangá, não é?

Ashinano: Quando você viaja, acaba encontrando coisas inesperadas. Andar de moto dentro de uma neblina densa e ver ela caindo lentamente até a cintura, por exemplo. Normalmente, você não pensa nesse tipo de coisa, certo? Não é algo que vá aparecer de forma direta no mangá, mas, sim, essa mesma sensação. Se bem que eu adoraria se também desse para passar cheiros e outras coisas (risos).

Conte-nos o que puder sobre o que acontecerá a seguir no mangá.

Ashinano: Pretendo trazer mais dessa atmosfera. Em relação a história… vou continuar esperando por mais cenas virem (risos). Mas acho que não terei problemas para o próximo capítulo. Quero que vocês percebam o que eu quero mostrar.

Para finalizar, uma mensagem aos fãs.

Ashinano: Continuem lendo até o final, por favor (risos).


Comentários e etc

Yokohama Kaidashi Kikou foi originalmente um one-shot vencedor do prêmio Quatro Estações, da revista Afternoon. Posteriormente, se tornou o capítulo 0 do mangá.

・Ashinano participou da publicação de alguns Doujinshi com Yoshida.


Publicado em 23/12/2025